Certas vezes a vida nos impõe situações inusitadas. Agente comete loucuras que jamais pensou em fazer. Por vezes, porém, acabamos tendo que pagar pelas loucuras cometidas. Umas loucuras são plenas de foguetes, pagamos o preço com o maior sorriso no rosto, outras vezes, elas são fardos que carregamos na cabeça, nas costas, mas que sentimos dor de verdade no coração. Hoje eu cometi uma loucura. Não sei o quanto vou pagar por ela, e nem se vou receber alguma coisa por ela. Mas eu fiz. Já cansado do fardo de pagar algumas loucuras que cometi, fiquei dias reticentes sobre cometer ou não mais essa. O herói tem medo. Ele já deixou bem claro isso. Agora está indefeso como uma criança, tipo a que o deixou indefeso.
Quando não se sabe o resultado das loucuras, sempre se tem um pouco de receio, quem se joga no espaço sem enxergar o chão? Foi praticamente isso que fiz hoje. Um acesso de coragem... “1, 2 e 3.. lá vou eu”, levantei, tremulo, a cada passo pra frente com a cabeça contando um passo pra traz. Mas já está decido, tem que ser agora. Uma escada, boa hora pra desistir. “Não, não vou desistir” pensei comigo mesmo. Confesso que 28 degraus nunca foram tão grandes como esses que acabei de passar.Não tem ninguém na fila, ainda bem. Ainda bem? Agora eu não tenho nem desculpas pra fugir. Mas vamos lá. Coloquei a mão na velha carteira surrada, misturado aos inúmeros cartões o único telefônico. “Coragem rapá!”, o tremor nas pernas não passou.
O número não estava na memória, ainda não cheguei ao estágio psicótico. Foi difícil teclar, mas consegui. “Tuuu”, aquele som do aparelho foi o fim da dúvida, “agora já vai saber de onde é o telefone.”Tuuu”, não que eu estivesse nervoso, mas depois do segundo toque do telefone imaginei que “Alô?”, não imaginei mais nada.Agora quem tremia era a voz. Agora minhas pernas não mais tremiam, formigavam como quem pula a 1ª vez de um muro e sofre com o impacto no chão (talvez só os meninos me entendam). Mas eu estava ali pra quê mesmo? Sim, lembrei. Pra falar do fardo que eu estou carregando. Claro. Mas pelo menos por 5 segundos consegui esquecer tudo isso. Concentrei-me na voz ou me concentrei na lembrança de quando eu estava perto? Acho que é hora de me concentrar no que vou falar. Dar explicações? Pedir desculpas? Por telefone? Meu Deus, isso é muito surreal isso. Conversei. Era só isso que eu precisava naquele momento.Passaram cinco minutos? Passaram dez? Ou foram apenas três? Não lembro. Foi uma eternidade. E foi tão curto. Vai entender o que passou na minha cabeça nessa hora. Só sei que enquanto falava parecia que o último fardo saia das minhas costas. “Ele vai voltar quando eu desligar isso”, mas ali eu me sentia leve, sem a responsabilidade de parecer ninguém, afinal já me conhecia bem, cada dia mais. Por mais que pareça tão pouco tempo, já conhece sim.
“Me avisa quando tu vier pra gente fala mais, tá?”. Não sei o que isso quis dizer. Eu vou tentar fazer o melhor pra fazer com que seja o que estou pensando. Afinal, já me disseram que o futuro é agente que faz, então vou fazer o que eu acho melhor.“Tchau, beijo”, ufa... consegui. “Coloca o telefone no gancho e para de sonhar rapá!”. Ufa... falei, não tudo que eu queria, mas falei com quem eu queria, e ali já se bastava. Volta agora, 28 degraus pareceram três. E aqui estou eu de volta. Ou melhor, já volto, vou ficar um instante mais lembrando.
Um comentário:
Subliminar... solidarizei com a idéia... pra algum lugar tem que ir toda merda que fica na mente!
http://penicao.blogspot.com/
abraço
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