Quem nunca chegou a tal ponto que achou que enlouqueceria? Mas enlouquecer porque? Todo mundo tem um pouco de louco dentro de si.Muitas vezes escondemos ela dentro de armaduras que não permitem mostrar quem realmente somos, o que realmente pensamos. Antes que eu enlouqueça, mando um pouco da minha insanidade escondida dentro de minha armadura!

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Quando eu sinto que cresci



O que fazer num fim de semana quando não há o que fazer? Eu resolvi lavar tudo que vi pela frente. A pequena pilha de roupas suja que começava a se formar no meu quarto, os lençóis da minha cama, as roupas de inverno guardadas há algum tempo que terei de usar num futuro próximo. Tudo pra máquina. Tudo pro sabão. É estranho. Acho que não fiz nada o fim de semana inteiro. Não parei um segundo se quer.
Coloquei a roupa na água. Cada roupa com suas cores diferentes. As claras, as escuras e as brancas. Pra mim não tinha diferença nenhuma, mas sempre vi todo mundo fazendo isso, por que não faria eu? Realmente. Normalmente eu não faria isso. Mas quando não se domina a situação se segue os mais experientes. E lá fiquei. O fim de semana inteiro na frente da máquina branca, que lembra muito a que eu cresci só adicionando sujeira. Ali que eu comecei a perceber que estava crescendo.
O difícil não é lavar. o difícil é colocar o sabão em pó. O mesmo sabão em pó que minha vó sempre usou e usa até hoje. O difícil é sentir enquanto o pó cai sobre as roupas o cheiro do sabão que me acompanhou toda a vida e que agora passou do estágio de cheiro necessário para a fase de cheiro nostálgico. E ali fiquei sentindo aquele aroma. Liguei a máquina.
Enquanto separava mais algumas peças, ouvia de fundo o mesmo som da máquina que eu cresci. Na infância, aquele som era pano de fundo para qualquer coisa que eu fizesse em casa. Agora, eu, sozinho, com a companhia daquele som. Respirei fundo. Parece bobagem. Acredite. Pra mim naquela hora era apenas saudade. Pronto. Acabou a primeira lavada.
Tirei a roupa da máquina e as estendi no varal. O que é a falta de pratica. Esqueci de colocar as roupas dentro do balde. Demorei o dobro do tempo. Parecia que não teria fim aquele martírio. Consegui. Aprendi. Não mais cometi esse erro banal. Não sei porque minha vida é assim. Eu só consigo aprender com os erros. Os exemplos nem sempre me bastam. Normalmente preciso errar. Segui colocando a roupa.
Secou a primeira parte. A hora que fiquei mais triste. Fui passar as roupas. Em cima da minha cama mesmo. O ferro aquecia enquanto eu separava as roupas em cima de uma cadeira. A primeira camisa, mais uma lembrança. Aquele ambiente me lembrou tanto o meu vô que sempre ajuda minha vó passando a roupa. Quantas e quantas vezes eu cheguei correndo e pedia pra ele passar a roupa que eu queria sair. A correria agora não era necessária. Agora eu tinha tempo de sobra pra fazer aquilo. Pra ficar sentindo saudade. E eu senti.
O ferro quente na calça de brim fria foi o ápice. Juntou tudo. O cheiro do sabão, o calor do ferro, foi difícil. Tive que sair. Tive que caminhar. Tive que respirar. Agora não tinha mais fuga. Sozinho. Cresci. Não sei como. Ainda não me adaptei. Cresci e nem percebi. Sozinho. Mesmo com tanta gente ao meu redor eu estou sozinho. Cresci e isso pode ser assustador quando se percebe nas coisas corriqueiras do dia. Saudade faz crescer. Cresci.

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