Quem nunca chegou a tal ponto que achou que enlouqueceria? Mas enlouquecer porque? Todo mundo tem um pouco de louco dentro de si.Muitas vezes escondemos ela dentro de armaduras que não permitem mostrar quem realmente somos, o que realmente pensamos. Antes que eu enlouqueça, mando um pouco da minha insanidade escondida dentro de minha armadura!

segunda-feira, 9 de abril de 2007

28/03/2007

Cinco da manhã. O imperdoável despertador toca. Sem muito susto, pois apenas duas horas conseguira dormir. ligou o chuveiro, a água quente caindo, no corpo ainda amassado do sofá que fizera companhia na derradeira noite. Um olho no relógio, outro querendo abrir. Cinco e cinqüenta e sete e o 'inatrasável' ônibus passa. Ele, o único passageiro sentasse a frente, olhando para a rua ainda escura procurando um lugar naquela hora em que não achava nada. Seis e meia. Entra na primeira parte de sua viagem rumo ao desconhecido. O sono agora não perdoa. Duas horas de um sono de ônibus. Não o ideal, mas sim apenas um subterfúgio para os pensamentos que acompanharam na noite anterior. Primeira escala. Mais três horas e meia de estrada. Porém agora, o sono não mais aparecia. A parte mais longa da viagem seria aquela que menos teria escapatórias de pensar no futuro. Encontrou. Louco, insano, inconseqüente, irresponsável já foi muito antes de todo esse dia.
As três horas passaram
. Dez minutos depois do futuro chegar. Desceu rápido do ônibus. Deu um rápido abraço no amigo que veio o buscar. O destino era conhecido. O futuro ainda não. Cinco minutos e a realidade cada vez mais próxima. Subiu três andares num elevador que parecia parar no espaço. No quarto todos já o esperavam. Entrou assustado. Todos aqueles olhos num misto de alegria com certa desconfiança. Fazia calor na rua. Ali não. Ele não sentia. Não tinha muitos sentidos para falar a verdade. Então, o levaram até uma sala, onde o futuro era iminente. Quatro caixas. A sua era a última. Uns cinco ou seis passos. Difíceis passos. Aproximou-se, lentamente. Parou olhando. Olhando não, fruindo. Como quem frui olhando uma obra de Van Gogh. Talvez esse tenha sido o problema. Aquela blindagem toda fez com que fosse apenas mais uma obra rara que a pouco adquiria. Voltou ao quarto. Tranqüilo por dentro. Doente por fora. A insensibilidade ao calor de antes tornou-se num frio arrebatador. Café não resolveu. Descer escadas tão pouco. Voltou ao quarto.
Ficou ali, sentado, por cerca de dez minutos. Uma solidão no meio de tantas pessoas. Uma forte solidão. De repente, o futuro entra pela porta. Imponente e frágil, vindo em sua direção. Se encontraram, se tocaram. Frente a frente, finalmente. Ele e o futuro. E ali seguiram cerca de cinco minutos. Se encarando. os olhos grandes, assustados, encarando os olhos miúdos da inconsciência. Cinco minutos. As pessoas ao redor pareciam não existir. Olhares fixos. Aquele talvez fosse o maior momento de suas existências. Cinco minutos apenas olhando. Nem uma palavra. Por falta de vocabulário ou por falta de reação. Frente a frente tentando reconhecer um no outro a importância que um terá na vida do outro. Possivelmente os cinco minutos mais importantes de suas vidas, mas que provavelmente só entenderão daqui algum tempo, quando cinco minutos já os farão falta.
Anoitece. E mais uma vez, ele e o futuro estão frente a frente. Agora sem ninguém ao redor. Agora os olhos pequenos mudaram, cresceram, como que já reconhecendo. Os olhos assustados também. Agora estão pequenos do sono que começa a refletir duas noites mal dormidas. Ele e o futuro novamente juntos. Uma noite inteira. A primeira de inúmeras. Sem data certa. Inúmeras. Ele e o futuro. O primeiro de vários encontros. A primeira de várias verdades. Ele e o futuro...

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